Tuesday, March 24, 2009

Pic-Nics in the Parks

Depois de meses de frio bem gélido, eis que chega o calor a Madrid e é ver toda a gente a correr para os parques semidesnudada. Para quem cresceu com um pé no Algarve e outro em Sesimbra ,ou simplesmente atravessava a ponte sobre o Tejo e estava na Caparica, sentir este calor e lembrar-me que a praia mais próxima está a 300 km para cada lado que me vire é ,no mínimo, um sentimento confuso.

Mas os parques em Madrid são mesmo uma realidade diferente dos nossos (tipo as maravilhas que são o Parque Eduardo VII e o Jardim do Campo Grande…) e as tarde passadas de perna esticada na relva, qual caracol ao sol, são do melhor. E tornam-se ainda melhores com o profissionalismo alemão. Até para fazer pic-nics vão ao pormenor da coisa! É morangos, salada, tempero da salada, talheres, vinho, chocolate para a sobremesa, ...

Os dois pic-nics que apresento aqui tiveram lugar no Parque do Retiro e na Casa de Campo (para onde se vai de teleférico, so cool!), respectivamente. E é melhor ainda quando se tem uma alemã ávida de aprender português, de dicionário em punho e determinada a apreender a pronunciação das palavras (embora depois de quinze minutos seguidos a dizer “é ão e não ao” “ão ão ão ão”, a coisa fica um pouco surreal... mas nada que um morango com Nutella não ajude!).


Além da dita alemã - Lisa, que depois do Erasmus em Madrid já tem um estágio assegurado no Uruguay - o meu rol de alunos de português incluiu um colombiano e uma chilena. Ficou acordado que me pagariam em comida e a primeira mensalidade foi, pois está claro, uma sandes de presunto. É este o glamour da minha vida!

Thursday, March 19, 2009

Erasmus Life

Já diria o AC…

Apesar de ser apenas mais um dia normal
E não ter acontecido nada de especial
Hoje sinto a boa vibe e nada me corre mal
Ainda bem que há dias assim

Ainda não foi desta que consegui ver o Palácio Real de Madrid. O dito tem entrada gratuita todas as quarta-feiras e sempre que lá vou, desde Setembro (Setembro!), nunca (nunca!) consegui apanha-lo aberto a qualquer quarta-feira que fosse… Ele são mudanças de guarda, actos oficiais a ministros, actos oficiais a embaixadores… Felizmente a tarde acabou por ser bem melhor do que simplesmente ter ido ver a vida obscenamente rica daqueles que vivem (literalmente) há séculos à custa do povo.


Num belo dia de sol, nada melhor que sentar numa esplanada a ensinar português à Lisa, uma alemã devota à aprendizagem da língua de Camões e que pergunta com grande espanto porque não consegue encontrar jornais portugueses em Madrid. A resposta mais é óbvia é porque não existe nem sequer um à venda. Pois é, sucessivos governos de Portugal, porquê este low profile crónico com uma das cinco línguas mais faladas no planeta? E sabiam vocês que o Brasil acabou de assinar um acordo com Espanha para o ensino do português brasileiro em terras espanholas? Mas moving on…

Depois de algumas horas a (tentar) ensinar como se pronúncia “ão”, recebo um telefonema português a convidar para um café con leche na Gran Via. E lá fui. Depois de falar português a um ritmo educativo durante algumas horas e de não ter qualquer possibilidade de o falar com ninguém diariamente, lá fui ter com a Madga e falar português a um ritmo normal.


Outro telefonema. Desta vez um convite para dinner and a movie do Carl. E mais uma vez, lá fui! Dia de tudo a um euro nos Montaditos e para acabar a noite em grande, ir ao cinema ver o novo filme do Almodôvar, Los Abrazos Rotos.

Três encontros seguidos, com três nacionalidades diferentes e falar uma língua diferente em cada um. O AC tem mesmo razão… ainda bem que há dias assim! Ainda bem!

Sunday, March 15, 2009

Dias Locos Part II

(Previously on… No Me Gustan Las Cucarachas)

Sexta-Feira, 12 de Março

Act IV

El Coche del Nacional-Catolicismo. Numa faculdade em que cerca de 70% dos alunos têm ideais políticos de (quase) extrema-esquerda, dos quais os mais convictos baseiam a sua vida na venda de gomas, escrever slogans marxistas-leninistas nas paredes e acusarem todos aqueles que não comparte as suas ideias de “fascistas!”, não é, própriamente, do gosto das massas descritas que alguém assuma, na faculdade que frequento, uns ideais direitistas convictos tais como ser uma ser uma fervorosa adepta de Aznar e do PP, numa época embebida de empatia Zapaterista, como é o caso de uma espanhola com quem me dou bem (e com a qual evito falar de política).

E eis que quando entro no carro dela para irmos a um Centro Comercial, deparo-me com o objecto decorativo do espelho retrovisor – uma fita da Nossa Senhora de Qualquer-Coisa envolta na bandeira de Espanha. Catolicismo e Nacionalismo… ring any bell? Como eu não sou de me abster destes comentários tão deliciosos disse-lhe que ela tinha um carro que agradaria a Franco… el coche del nacional-catolicismo! E não é que ela gostou do “elogio”?! E ainda me diz que tira aquilo na faculdade para não lhe vandalizarem o carro. Raios partam! Já uma pessoa não pode ter laivos de simpatia ditatorial sem sofrer censura! (Que ironia, no?) Foi a primeira vez que andei de carro em Madrid desde Setembro! E logo num carro franquista! O orgulho!!*

Act V

La Movida. E depois da tarde de compras, chego a casa para sair daí a trinta minutos devido a mais convites incessantes a requerer a minha presença para beber café con leche, salir de copas y hacer botellón. E só volto a casa quase na manhã do dia seguinte. Madrid me mata!!


The End!
(eu sei, não subi aos Montes Himalaias nem fui à China mas digam lá que não dei um tom de aventura catita aos eventos descritos!)

* (Nota do Editor: alguém que, por favor, denote o sarcasmo e não me venha perguntar se eu sou mesmo apoiante de Franco ou Salazar.)

Dias Locos: Part I

Desde quinta-feira passada que o meu corpo é intensa e internacionalmente requisitado para o mais variado tipo de eventos sociais. Aqui fica uma súmula dos ditos.

Quinta-Feira, 12 de Maio

Act I

Huelga general. Os alunos espanhóis, especialmente aqueles com “convicções” de extrema-esquerda que frequentam a Faculdade de Política da Universidade Complutense (ou pelo menos o seu bar e corredores) têm desde o princípio do ano lectivo um chupa-chupa bem docinho que não querem largar – protestar contra Bolonha. Esta é a segunda vez que fazem greve e lá foram eles, com as suas roupas em 5ª mão e cabelos cortados à navalha (coz that's what Lenin/Marx/Che would aproved) protestar para o centro de Madrid. Mas isto só depois de graffitar a faculdade toda com citações comunistas como “la lucha es el único camino!” e tirarem as portas das salas quase todas para que não houvesse aulas. Moral da história: fiquei a dormir.

Ao acordar, com um belo dia de sol, eis que recebo logo pela manhã (meio-dia) um convite para ir passar umas horas sentada na relva do Parque do Retiro com o Carl e o Jamie, pedido ao que imediatamente acedi (e no final do qual ainda me cruzei com os ditos protestantes em Cibelles). Depois de um agradável banho de sol, o Jamie segue para o aeroporto em direcção à chuva e ao nevoeiro de Manchester e eu sigo para casa com vista a preparar-me para um serão de luxo diplomático.


Act II

Hotel Intercontinental, Paseo de la Castella, Madrid. Aquilo a que os organizadores designaram por “I Jornadas para o Expatriado Português” tinha o título um pouco desfasado da realidade. Se o primeiro implica alguma espécie de encontro para ajudar os portugueses que se encontram no estrangeiro, o facto de ter sido feito num Hotel de Cinco Estrelas e apenas estarem presentes gestores, empresários, representantes de grandes empresas e representação diplomática – onde eu era, mais que seguramente, a única pessoa que fazia baixar a média do PIB per capita da sala uns pontos consideráveis – depressa se percebe qual o perfil do expatriado português presente no evento.

Mas como de preocupações sociais não se aproveita a vida, quero deixar aqui o meu grande bem-haja e agradecimento a todos os contribuintes portugueses que me permitiram desfrutar de um serão de divinos canapés, imensos candelabros e um porteiro a abrir-me a porta com ar de “deve estar enganada no sítio”.


Act III

La Latina. Depois de encher a barriguita com p máximo possível de canapés chiquérrimos, beber o máximo possível de coca-cola chiquérrima e roubar uns quantos pacotes de chá chiquérrimos eis que resolvemos ir beber mais copo (este já pago), deixar a alta sociedade lusitana e misturarmo-nos com a ralé local em La Latina, um dos sítios de la noche madrileña. E esclarecendo o plural da frase, o “resolvemos” aplica-se a mim, à actual estagiária do consulado e às amigas que ela levou para encherem a sala de conferências do hotel (pelo visto não há assim tanto português expatriado rico aqui).


(to be continued…)

Monday, March 9, 2009

Alcalá de Henares

Caros amigos, noite de discoteca (local que eu odeio em Lisboa, Madrid ou na Conchina) seguido de um despertar temprano na manhã seguinte para um dia turístico nas afueras de Madrid é uma equação cujo resultado é, invariavelmente, faltar à primeira aula da manhã de segunda-feira porque o corpo, a mente e a alma se recusam a sair da cama (parental adviser: não mãe, faltar a uma aula não significa chumbar a todas as cadeiras e o ano no estrangeiro ser em vão).

Mas continuando a entrada no diário de bordo. Não vendo uma italiana com quem me dava bastante bem há uns meses, e mediante convite da mesma, fomos passear a Alcalá de Henares, cidade Património da Humanidade - estatuto este que me parece digno do reencontro erásmico. E como a Wikipedia já tem a informação sobre a cidade bastante bem elaborada, deixo-vos com alguns trechos de contextualização e sigo em seguida com a apreciação geral do local.


"El casco histórico de la ciudad de Alcalá de Henares y su universidad, fueron declarados Patrimonio de la Humanidad por la Unesco en 1998 en reconocimiento a su condición de primera ciudad universitaria planificada como tal que ha existido en el mundo y a su concepción de ciudad que proyectó el ideal humanista a América.

Casa natal de Miguel de Cervantes. Antigua casa del siglo XVI donde, según la tradición, nació el autor de El Quijote, Miguel de Cervantes en 1547. Su interior está ambientado con interesantes muebles de la época y una de las mejores colecciones de distintas ediciones de El Quijote."

Digam lá se eu não estou tão fofa a dar um beijinho ao D. Quixote?!

Pois é meus amigos, com descrição tão apelativa da cidade, tenho-vos a dizer que se Alcalá de Henares é Património da Humanidade (PH) então os humanos têm pouco sentido de real estate. Se o estatuto de PH implica a atribuição de fundos por parte da UNESCO para manter o lugar conservado, parece-me a mim que esses fundos não se podem limitar aos, praticamente, 2 metros quadrados de centro histórico, que diga-se, nem sequer estão, eles próprios, tão bem conservados assim.


Ter que se atravessar um pueblo feio, sujo e escuro para chegar à parte do imobiliário planetário que, pelo visto, aludindo a minha condição humana (e não que me encante esse facto) também me pertence, parece-me um pouco anti-climax. A chegada à estação de comboios causa, só por si, uma tamanha reacção de “onde é que eu me vim meter e como raio a Humanidade descobriu isto?!” que deu vontade de atravessar a linha e voltar para cidade that i come to love and cherish, Madrid.

Em conclusão, o dia valeu a pena. Viajar vale sempre a pena (nem que seja aos subúrbios de Madrid) e, ao contrário do que, certamente, seria o caso em Portugal (blasfémia mesmo), todos os monumentos são de entrada gratuita. It was quite a lovely day.

É O nosso Cristiano, minha gente! Da Madeira para o mundo! O orgulho de um encontro imediato com o número 7 da selecção nacional no Burger King de Alcalá de Henares!

Wednesday, March 4, 2009

Noches de Montaditos

É tão, tão fixolas, ao fim de seis meses e três dias en la movida, ainda descobrir sítios tão, tão catitas em Madrid! Desta vez tenho que dar o mérito da descoberta ao Carl, um inglês de Manchester super cute (and gay with a boyfriend, so please do not start with the lame jokes!).

Neste bar com uma decoração de vibe vintage chamado “Los 100 Montaditos” – e que se encontra entre na rua das prostitutas, casas de alterne, casas de apostas, sex shops, e tattoo shops (frequento bons sítios não frequento?!) – a especialidade da casa consiste nas mini sandes (los montaditos) que vêm na foto (cem diferentes à escolha) e a parte interessante é estar tudo a um euro, incluído as bebidas, à quarta-feira, não aumentado muito mais o preço no resto dos dias.


Contudo, a parte mais encantadora do lugar em análise é o método de requisição e recepção do pedido – escreve-se o que se quer comer numa ementa tipo pop-quiz juntamente com o nome de quem pede e depois tem-se alguém a chamar o nosso nome num microfone demasiado alto e desafinado. Como em todo o lado há engraçadinhos, ouvem-se coisas como “Real Madrid, por favor!” e lá vai o Real Madrid buscar o seu tabuleiro de mini-sandes e batatas fritas.


É fundamental, como nota final, fazer a devida referencia ao simpático senhor da foto. Não adoram o ar de aprovação que este sexagenário (ou amadurecimento superior), a quem pedidos para compartir a mesa, olha para a nossa comida?! É tão cool ver como a terceira idade em Madrid tem andamento para bares cheios de malta a rondar os 20 e poucos anos e ainda por cima com um semblante tão simpático e fofinho!

Sunday, March 1, 2009

Erasmus Lectivo: 2º Semestre

Palacio de Cristal, El Retiro, Madrid

Embora o senso comum (ou o álcool) tenda a esquecer que a parte lectiva de Eramus, de facto, existe (para além do Erasmus Festivo) eis que depois de algumas semanas sem qualquer tipo de vida, dedicando a minha existência à doce actividade de estudar para os exames, nada melhor do que acabar os ditos numa sexta-feira e começar as aulas na… segunda-feira seguinte (não vamos cá perder o ritmo académico com futilidades como são uns dias de descanso!) Não obstante, o esforço valeu a pena e as cinco cadeiras estão todas feitas. Yupiii!!

E como contra o calendário do establishment académico a minha simples entidade estudantil estrangeira nada pode, toca a iniciar um novo semestre Erásmico sem mais demoras. Desta vez sem estágio mas como mais uma cadeira (deveriam ser mais duas, mas pareceu-me que não passei Badajoz apenas para ser uma escrava dos livros) ficando assim com a singela quantidade de seis asignaturas para fazer.

Política y Gobierno de los Estados Unidos (levantar-se-á uma grave crise existencial sobre a minha alma se eu chumbar a esta)
Política Exterior de España
Relaciones Internacionales Asia-Pacífico
Relaciones y Política Exterior de la Unión Europea
Ideologías Políticas
Análisis Comparado de las Democracias

Pela positiva, uma das melhores coisas que a Universidad Complutense de Madrid tem (ou pelo menos a Facultad de Política y Sociología) é o facto de o quinto e último ano de licenciatura de Ciencias Políticas y de la Administración oferecer uma variedade enorme de opções. São literalmente dezenas de cadeiras, muitas delas que não existem em mais nenhuma faculdade em Espanha, distribuídas entre cinco especialidades (Estudios Internacionales, Estudios Europeos, Estudios de América Latina, Análisis Política, Administración Pública). E dado que todas elas têm dois horários diferentes, a probabilidade de algo de que gostamos estar sobreposto é escassa.

Pela negativa, e uma tendência bastante curiosa que notei no 1º semestre e que confirmei no 2º, é o facto de os espanhóis não terem o mínimo interesse pelo resto do mundo. As cadeiras pertencentes às especializações de Estudos Internacionais e União Europeia – ou seja, o mundo para além de Espanha – são preenchidas, na quase totalidade, por alunos Erasmus, dedicando-se os alunos espanhóis apenas a cadeiras de ciência política pura que não os obriga a levantar as orelhas para além das paellas e do jámon. A cadeira que tenho sobre União Europeia tem 45 alunos, com 20 nacionalidades e… 5 espanhóis.

And although I find this a bit disturbing, it doesn’t really surprise me. Espanha não tem, em nenhuma Universidade, um curso superior de Relações Internacionais. E depois de ouvirmos um espanhol histérico ao telefone a queixar-se que o professor tinha posto um texto em inglês como pergunta de exame – uma blasfémia académica que nunca lhe tinha acontecido – tudo parece normal.

Úélcóme tú Espaine!

P.S. E o pior no meio disto tudo é que, mesmo com estas características, os espanhóis sabem -se dar valor e são o terceiro país mais visitado do mundo. Não teria Portugal capacidade para ser mais e melhor que Espanha se finalmente surgissem líderes políticos que ultrapassassem a contínua e histórica linha de mediocridade e corrupção que pautam a nossa classe política?

Gosto mais de Madrid do que de Lisboa e isso entristece-me.