Tuesday, July 7, 2009

Full Circle

1 de Setembro de 2008 – 30 de Junho de 2009

Ao escrever esta última entrada de um diário que consegui manter activo (hurray!) ao longo dos últimos nove meses, existe a sensação de que everything comes full circle.

O primeiro relato, cheio de ansiedade, expectativa e muita, muita vontade de começar uma página que se encontrava totalmente em branco no livro da minha vida, escrevi-o exactamente no mesmo sítio em que agora faço este último post cucarachiano – sentada no meu quarto, em Lisboa.

É uma sensação (um pouco) surreal esta de estar de volta ao exacto ponto de onde parti É como se a minha vida tivesse ficado em stand-by durante um ano, pacientemente, à minha espera. É como um puzzle demasiado perfeito que me leva a crer que sonhei, imaginei ou delirei com o que acabei de viver. É, paradoxalmente, um encaixe tão perfeito que acaba por ter um sabor amargo, uma sensação desconfortável, um canto de sereia que me atrai para o canto de onde luto por sair. É um fato que nos serve perfeitamente mas cujo tecido abominamos.

Uma pessoa sabe que está com problemas de reintegração e sem qualquer vontade de regressar às origens quando começa uma discussão em versão monólogo com o GPS do carro. Se já me custou ver a placa a dizer “Bem-Vindo a Portugal” no final da Auto-Estrada que liga Madrid a Bajadoz, pior ainda foi o momento simultâneo no qual ao avistar o dito sinal de boas-vindas, a voz pausada e feminina do aparelho me diz “chegou ao seu destino”. Ora, o que aquela senhora teve a infeliz ideia de me dizer.

“Mas quem és tu, ó aparelho de orientação, para estipular o meu destino? E essa blasfémia maior de mo afirmares em frente a uma placa com a palavra 'Portugal' em letras garrafais? Sabes lá tu, ó mapa electrónico, se o meu destino não me aguarda noutra fronteira ou numa qualquer rotunda da vida? Quem és tu, ó voz feminina monocromática, para me dares tamanha facada na negação pessoal de estar de volta?”

E depois de colocar estas e outras questões filosóficas de cariz dramático e sofredor a um objecto que tão cruelmente me indicou o final da AutoVia de la Extremadura, percebi que o regresso não iria ser fácil e que precisaria de alguns dias para escrever este post final.

Não, não vou fazer um repasso de quem conheci, onde fui, o que me marcou, do que vivi. Não sei sequer se algum dia vou ter coragem de reler todos as entradas deste blog e recordar situações e pormenores já perdidos na minha mente. Recordar não é viver; recordar é a memória do que já foi vivido; é a brutal lembrança daquilo que não volta mais E isso, isso ainda me custa demasiado a assimilar.

Mas que venha um novo círculo. Que a vida me leve por novos e mais estimulantes caminhos. Este ano lectivo que agora termina foi, sem dúvida, o melhor ano da minha vida mas quero acredita que foi o melhor… até agora. Espero, quero e desejo que o amanhã seja ainda marcante.

Não quero dizer adeus a ontem, quero dizer olá ao amanhã.


¡Fin!

Tuesday, June 23, 2009

Es lebe Berlin!

Visitar Berlim na condição de estudante de Relações Internacionais não é o mesmo que ir à capital alemã na simples condição de turista à procura das habituais fotos (embora, claro, esta parte também esteja invariavelmente incluída). Para quem estudou, ao longo dos últimos anos académicos, de forma bastante recorrente, a Guerra Fria e as aplicações desta, especialmente na Alemanha – país dividido literalmente em dois pelas ideologias em oposição – ir a Berlim, cidade onde se levou ao extremo esta divisão com a construção de um muro que dividiu a cidade, tem a carga simbólica de finalmente se estar in loco num sítio marcado profundamente pela História que, recorde-se, é demasiado recente.



Berlim não é uma capital como as outras e, certamente, desconstruiu-me as ideias pré-concebidas sobre os 'requisitos' de uma cidade grande e de uma capital europeia. Devido à divisão pelo muro, não existe propriamente um centro e a cidade está dispersa por vários bairros, o que acaba por lhe dar um sentido de pacatez e calma que depressa nos faz esquecer que estamos na capital de uma das maiores economias do mundo. A rapariga alemã que fui visitar diz-me que eu estava à espera de algo mais à medida de Frankfurt. Terei de ir confirmar!.


Por toda a cidade existem memórias bem presentes da realidade extinta à, exactamente, 20 anos, seja por partes inteiras do muro que se podem encontrar por toda a cidade, seja por marcas no chão que nos fazem questionar como é possível ter existido naquele local (e são muitos os locais) uma barreira física.


Não entro a fundo nas questões políticas para as quais tenho convicções bastante fortes (não é a Alemanha, e Berlim em particular, o exemplo mais perfeito de que sistemas comunistas não funcionam?) pois bastantes vozes se levantariam para criticar o que penso e o que pretendo aqui não é um debate político mas sim a análise da cidade em si. Ainda neste seguimento, é algo peculiar ver as diferenças arquitectónicas entre leste e oeste (os arquitectos soviéticos eram desprovidos de qualquer sentido de imaginação) e o facto de existirem zonas completamente cheias de... absolutamente nada no meio da cidade pois encontravam-se junto ao muro.

Por último, tenho de agradecer à minha guia, Lisa, ex-Erasmus alemã que conheci em Madrid, pois no mais perfeito sentido organizativo alemão, tinha os meus dias totalmente planeados de manhã à noite. Além dos percursos turísticos, estava incluído a participação numa greve universitária contra o estado do ensino (confesso que é uma sensação bastante estranha estar no meio de um comício na Alemanha, com um alemão a gritar palavras de ordem de maneira efusiva e as massas alemãs que o ouvem a ecoar essas palavras…), a ocupação de um aeroporto (sim, eu estive a *ocupar um aeroporto* com centenas de polícias a controlar as massas estudantis, actividade onde pensava, muy a menudo, nos problemas de deportação e no exame que ainda tinha em Espanha, caso fosse presa). Para terminar o pacote de experiências berlinenses, e já num tom menos revolucionário, assisti a um concerto de bandas alemãs na sua universidade e ainda tive direito a uma ida ao teatro, ver um musical, no último dia.

Como agradecimento, estão já prometidos quilos de bacalhau e dúzias de pastéis de nata, este Outono, em Portugal.

Sunday, June 21, 2009

Semana Diplomática

Vamos lá pôr um bocadinho de ordem aqui na casa. Não escrevo há já algum tempo mas estas lides académicas apelidadas de “época de exames”, que eu vejo mais como “época que nos suga a alma e rouba anos de juventude”, não me tem deixado muito espaço para actualizar o blog. Contudo, isso não significa que a vidinha social erásmica tenha estado parada ou dedicada em exclusivo a esses sugadores de alma que são os exames. Comecemos então pela semana do 10 de Junho, dia de Portugal e das suas Excelentíssimas Comunidades (do Minho a Timor, I guess).

8 de Junho de 2009

A respeitadíssima Embaixada de Portugal em Madrid organizou um evento na Casa da América em Madrid dedicado ao tema dos laços ibéricos, com direito a colóquio, Vinho do Porto, Pastéis de Nata e a encerrar um concerto de música tradicional portuguesa (tradicional, não pimba). É claro que a atenção recaiu sobretudo nos Pastéis de Nata, confeccionados estes pelas presidiárias do Estabelecimento Prisional do Linhó que, diga-se, estavam bem bons. Para quem tenha curiosidade de saber ao certo em que consistiu o dito evento é favor consular o blog http://portugalpontoes.blogspot.com.


10 de Junho de 2009

O highlight da semana teve lugar no dia de Portugal e das Comunidades Portuguesas, com Recepção (isto significa que não há jantar mas sim aperitivos) oferecido pelo Senhor Embaixador a nata do creme da sociedade portuguesa e espanhola em Madrid. Ele eram Embaixadores, Duques, Condessas e demais derivados, a saborear o seu pastel de bacalhau ou bolinho de caviar, pois é exactamente assim que o dia das Comunidades Portuguesas deve ser festejado – com uma festa privada para a alta sociedade paga pelos contribuintes portugueses. ...E mais não digo. Mas em conclusão, o que interessa é ser convidado (e eu fui! ah!), aproveitar o serão diplomático e deixar o suor dos meus pais (e dos vossos) pagar a conta!


Em ambas as fotos estão colegas que conheci durante o estágio no Consulado, os quais nunca vou esquecer. Muito obrigado pelo carinho, apoio e amizade. *

Wednesday, June 3, 2009

Heart Shaped Year

Dado que os exames já começaram e que os mesmos se vão estender até ao dia 26 de Junho, o meu último mês em Madrid não vai ser tão agradável e desfrutável quanto eu gostaria. Contudo, como estudar está longe de ser a paixão da minha vida e pretendo aproveitar ao máximo (máximo possível, vá) os últimos momentos deste meu inesperado romance intenso e sórdido com Madrid, não vou certamente deixar Junho passar despercebido por detrás de uma pilha de livros universitários.

Assim, já tenho na agenda um convite do Excelentíssimo Sr. Embaixador de Portugal em Espanha para a festa que o mesmo irá oferecer em honra do 10 de Junho, uma sessão de música portuguesa com pasteis de nata confeccionados no Estabelecimento Prisional de Linhó e o melhor de tudo, uma fuga de poucos dias até Berlim antes do último exame para não deixar que o estudo me roube toda a sanidade mental antes de regressar à pátria-mãe. E nem quero pensar na palavra countdown para não me dar já um esgotamento nervoso.

Sumariado o meu mês de Junho, aqui ficam alguns resultados bem catitas da sessão fotográfica levada a cabo a semana passada quando uma amiga e a sua máquina ridiculamente cara (descansa Graziela, eu não digo a ninguém que a tua “Maria” custou 1500€) me vieram visitar a Madrid.


Fierce!!!

Tuesday, May 26, 2009

Fado with a twist

Na vida há que ter prioridades e entre estudar para um exame que se tem no dia a seguir ou a ir um concerto de uma banda portuguesa que eu adoro em Madrid, na sala de concertos mais cools da cidade, Sala Galileo Galilei, restam poucas dúvidas ao que o coração vos manda fazer!



Estava eu, às 10h50 da manhã no autocarro que me leva à faculdade, cheia de sono, cansada, com fome, sem vontade de ter aulas nem estudar para o exame do dia seguinte quando recebo uma chamada telefónica a perguntar se essa noite (ontem) queria ir ver Deolinda a la borlix com os cumprimentos e a generosidade da Embaixada de Portugal em Madrid.

Ora, eu já andava a chorar que queria ir ver este concerto à pelo menos uma semana (vá, três dias desde que vi o cartaz a anunciar o dito colado numa caixa de electricidade perdida pela cidade) mas 16€ de entrada mais as horas perdidas de estudo equacionavam a balança para a já referida voz da consciência. Não obstante, e segundo as leis da matemática emocional, se à balança substituirmos o valor do bilhete por zero, somarmos este à vontade, também zero, de estudar e multiplicarmos tudo pela vontade imensa de ver os Deolinda ao vivo, então as palpitações do coração abafam os gritos de responsabilidade do subconsciente.


E palpitou muito bem porque o concerto foi dos melhores que já vi na vida! Começando pelo facto de ter ficado posicionada no melhor lugar da sala, sentadinha na mesa mesmo em frente ao palco, passando pela qualidade da música, a presença em palco da banda e tendo como cereja em cima do bolo a simpatia dos membros a dar autógrafos e a tirar fotos com o pessoal, valeu MUITO, mas mesmo muito, a pena ter ido.


E não é que a simpatia concentrada numa embalagem pequenina de conteúdo enorme que é a senhora Ana Bacalhau, vocalista do grupo, ao saber que eu estava a faltar aos meus compromissos estudantis para ouvir a sua voz, agarra-me no braço quando eu já me estava a ir embora – babadinha com o meu poster assinado pelos quatro – para me desejar boa sorte – “Ó Sofia! Boa sorte para o exame de amanhã!”. Se chumbar ao menos chumbo feliz!! Ah! E ainda fiz questão de os elucidar sobre o meu acto patriótico de assinar o abaixo-assinado que correu pela Internet para tornar o Movimento Perpétuo Associativo o novo hino nacional!

Portugal, de uma certa distância, até nem faz mal aos ossos!

Sunday, May 10, 2009

Introspecção

Metro de Madrid

Eu sei, tenho escrito pouco. Fora este incrível e findo mês de Abril, em que tive a oportunidade de viajar para Paris e Roma num intervalo de duas semanas entre cada destino, a verdade é que a minha vida entrou numa rotina erásmicas que não vale a pena repetir aqui diariamente. E digo isto da maneira mais positivamente possível.

Saber que vou encontrar a Karolina (checa) para o almoço e compartilhar histórias sobre as nossas vidas estranhamente similares, ter aulas de Política Exterior da União Europeia ladeada por um mexicano e um coreano a olharem para mim com um ar desesperado de quem não entende a décima parte do polvo burocrático que é a EU, discussões socialistas-liberais com a María (espanhola), ocasionais cafés com leite com a Magda (portuguesa) e montaditos com o Carl (inglês) até este decidir só comer salada porque vai de férias com o namorado.

A minha vida está confortável, está boa, está diferente. E eu não estou habituada a sentir-me assim, feliz. Apesar da quantidade de trabalho da Universidade local e da que ficou além-Badajoz não me deixarem ter uma vida mais tranquila como a maioria dos Erasmus têm, isso no balanço final não me importa muito. Sinto-me a fazer algo útil com o meu tempo aqui. Mas como eu não sou de aproveitar bons momentos sem lhes por um bocadinho de limão, também sinto laivos de desespero a romper pela felicidade (frase bonita, hein?).

Sinto este ano a passar demasiado depressa, sinto-me numa passadeira rolante que segue em frente demasiado rápido sem nunca parar nem olhar para trás. O amanhã virá tão rápido como o ontem já se foi. E o que faço a seguir? Para onde vou a seguir? A vontade de fazer muita coisa é mais que muita, mas o quê? O medo é não conseguir fazer nada, é não ir a lado nenhum, é plantar-me no mesmo chão de sempre e ver o sol a nascer do mesmo lado todos os dias.

Não tenho certeza do passo a dar, só tenho certeza dos passos que não quero dar e, no final, julgo que isso me chega. Talvez evitando as estradas que não queremos explorar, demos por nós a percorrer aquelas que nos levem ao destino que queremos encontrar.

E parece-me que fiquei sem post para o final de Junho! Raios partam que terei de escrever algo (ainda) mais lamechas quando chegar a altura.

Sunday, May 3, 2009

An American Weekend in Rome

Mais uma amizade Erasmus, mais uma oportunidade de viajar! Depois de conhecer uma americana no aeroporto de Madrid à espera de um voo natalício a caminho de Lisboa, já nos encontramos em Lisboa, Madrid e agora Roma.

Coliseu, Roma

Uma pessoa sabe que chegou a Roma quando uma hora depois de aterrar em domínio territorial berlusconiano já está a comer pizza e gelado. E como eu comi pizza, pasta e gelado durante a minha estadia em Itália! Tutti belísimo! Assim, claramente se deduz que este foi o ponto alto da viagem e a conclusão que seria impossível, para mim, viver em tal paraíso gastronómico devido à constante voz da minha consciência – estranhamente similar à voz da minha mãe – a lembrar-me dos kilos a mais que cada bola de gelado ou fio de esparguete trazem consigo.

Fontana di Trevi, Roma

Em relação à cidade em si, devo dizer que não gostei muito. Roma é demasiado suja, demasiado abandonada, demasiado moribunda, demasiado Lisboa. É quase uma sensação surreal ver que as dezenas de ruínas romanas espalhadas por toda a cidade foram como que simplesmente escavadas e depois largadas à sua sorte. E por sorte entendemos não só os humores da Mãe Natureza como a parasítica obsessão de escrever o próprio nome com uma lata de tinta ou o facto de estas pedras com mais de dois mil anos servirem de poiso ao rabo de qualquer turista cansado.

Panteão, Roma

Mais uma vez, e não sei bem porquê, dei por mim a viajar com um enorme timing turístico – fui a Itália durante a Semana Cultural, o que significou que todos os monumentos e museus tinham entrada gratuita. E assim entrei a custo zero no Coliseu, nos Fóruns Romanos e Imperais, nos Museus de Florença e em bastantes mais coisas, o que, feliz e consequentemente, me fez ter dinheiro para mais pizzas, mais pasta e mais gelados!

Basílica de São Pedro, Vaticano

E como uma ida a Roma não teria sido suficiente, toca a apanhar o comboio das 6.35 da manhã de um domingo chuvoso e passar um dia na Toscana, mais concretamente, em Florença que é soberbamente encantadora. E deste daytrip o ponto alto foi mesmo ver o David de Michelangelo ao vivo. O senhor, que realmente é bastante guapo e imponente, deduzo que tenha o que hoje se chama de star quality. E tendo em conta que se mantém famoso à 500 anos, o dito é uma espécie de Madonna da arte, conseguindo sempre manter-se relevante no feroz mundo do showbiz das estátuas desnudas do Renascentismo.

Florença

David, Florença

Em suma, Abril foi, sem duvida, um mês em grande. Paris e Roma num espaço de duas semanas é algo que ainda estou a digerir (especialmente Paris, oh Paris…). Eu diria que agora deveria vir o descanso merecido mas o que é certo é que a faculdade espanhola e as obrigações da que ficou no Alto da Ajuda não me dão descanso e o máximo que posso fazer é comprar o guia turístico do próximo destino e ir planeando o mesmo durante as viagens de metro diárias. Que venha Berlim!